Dando seqüência à análise de oportunidades exóticas de investimento, vamos às que são acusadas de esquema de pirâmide. Por que fazem tanto sucesso no Brasil?
Dinheiro fácil sempre foi um ótimo chamariz para espertinhos. Estelionatário não seria uma profissão tão antiga se não fosse esse atrativo.
Em tempos de internet, então, essa forma de “trabalho” ganhou outra proporção. Você entra na web e tem várias pessoas apresentando seus depoimentos (na delegacia? não, em sites mesmo) de que estão ganhando muito dinheiro fácil, com isso ou com aquilo, e ainda te prometem contar como e de graça!
Meu instrutor de academia apareceu há uns tempos falando de um Mister “Beija Flor” (você entendeu?). SEGUNDO ELE, você paga uma adesão de uns 3 mil, assiste 15 minutos de propagandas online por dia e, no fim do mês, ganha uns 800 reais, algo assim. Fácil, não? Fácil até demais. Bacana, ele ainda conta que seu primo está fazendo tanto dinheiro fácil que vendeu o carro e comprou várias cotas, assiste algumas horas de anúncio por dia e fatura dezenas de milhares de reais por mês. Uau!
Como saber se algo é fraude? E vale a pena investir em uma fraude, mesmo consciente de que é fraude?
Vamos por partes.
Como saber se é fraude.
Se o dinheiro é muito e é dinheiro fácil, você já tem um indício. Mas, como ter certeza?
Simples, a remuneração sua depende de algo real na economia, ou do simples crescimento da rede e das taxas de adesão pagas?
Caso as informações passadas pelo meu instrutor estejam corretas no caso acima: você realmente acha que assistir 15 minutos por dia, sem a menor intenção de comprar os produtos anunciados, gera uma renda de publicidade para o veículo anunciante maior do que 800 reais por mês? Afinal, se você recebe oitocentos, o intermediário recebe mais, pois tem que retirar a margem dele. Isso é um sistema sustentável? Se todas as pessoas no mundo fizessem isso, viveríamos só de assistir anúncios sem intenção nenhuma de comprar?
Quando for fraude, por que um dia a casa cai? Cai porque, no caso hipotético acima, no dia em que não for possível expandir a rede, pois não há mais novos interessados (atingiu-se o limite de trouxas), não haverá como pagar a “remuneração” de 800 reais (pois essa é paga com base em novas taxas de adesão).
Para sustentar por algum tempo uma pirâmide, a taxa de adesão tem que ir subindo, para demonstrar que é algo concorrido, que está dando certo e, claro, para remunerar quem entrou antes.
Lembre-se, não estou afirmando que Mister “Beija Flor” é fraude, pois nem conheço seus detalhes. Estou dizendo que as informações prestadas pelo meu instrutor de academia contém vários indícios de pirâmide. Não quero ser processado e ter que provar essa ou aquela acusação feita. Não estou acusando ninguém, tudo são boatos que circulam e só me disseram algo sobre um animal exótico da fauna brasileira.
Como sempre, há aquela zona cinza, que não é preto, nem branco.
Amwey e Hervalife estariam, em tese, nessa zona. As operações são sustentadas por produtos reais (ou seja, não é fraude). Porém, há um sistemas de remuneração estranho embutido no processo.
Em primeiro lugar, no caso da Amwey, a pessoa recebe comissão não só sobre as próprias compras/vendas, mas sobre as compras/vendas de seus indicados e indicados de indicados. Além disso, há taxas de adesão, kits que se compra para ingressar no sistema, há encontros em várias cidades e paga-se ingresso e coisa e tal.
E são justamente esses kits e adesões que ajudarão a remunerar os distribuidores mais antigos. Não apenas as vendas dos produtos, oras! Enfim, Amwey e Hervalife, por terem lastro, não são fraude, a discussão que corre por aí é somente se usam do sistema de pirâmide (e se farão você perder todos amigos por se tornar um chato).
Nesses dois últimos casos, não há dinheiro fácil, a pessoa tem que trabalhar muito para vender os produtos. É um representante comercial de verdade, só que com um “turbo” esquisito na remuneração.
Além disso, , não vou afirmar em momento algum conclusões categoricamente. Meu leitor é inteligente e pode refletir sozinho.
Próxima pergunta:
No caso das fraudes descaradas: vale a pena (financeiramente) “investir” conscientemente em uma fraude?
Acredite: pode valer. É, às vezes vale sim. Não é para mim mas para muita gente pode trazer algum dinheiro fácil. Ademais, não acho que um pobre zé ruela que entra embaixo na pirâmide possa ser acusado de qualquer crime: ele não tem domínio do fato, não tem poder sobre nada que ali ocorre, nem tem certeza absoluta se o esquema é de fraude, ou não.
Então, para ganhar algum dindin, o “apostador” tem que jogar conforme as regras. Regra número 1: se você sabe que é fraude, não confie no fraudador nem por um segundo, embora você tenha que ficar nas mãos dele por um tempo. Afinal, se você compra uma cota por 3 mil reais (não me lembro exatamente) e vai ganhar 800 por mês, você ficará 2 meses e meio no vermelho. Nesse período, você tem que rezar para a casa não cair.
Além disso, pede-se um tempo para processamento dos ganhos, etc. Há uma defasagem de uns 30 dias entre você ter direito à sua “remuneração” e você efetivamente poder sacá-la.
Enfim, aumente para uns 4 meses o prazo em que o coitado que ingressou na base da pirâmide tem que ficar rezando todos os dias..
Após esse período, se, por um acaso a pirâmide não tiver sido desfeita pela polícia, você começará a ter lucro. Aí é que está a diferença entre o esperto e o espertalhão.
O esperto vai continuar a na pirâmide com somente aquele “investimento (sic!) inicial” e, o que vier daí em diante, é lucro. Deverá, claro, sacar todo o dinheiro disponível assim que tornar-se disponível.
O espertalhão vai agir como o primo do meu instrutor: verá que o negócio é bom e dá certo de verdade (kkkkkkk!) e vai reinvestir o lucro para poder ficar milionário!
O esperto tem chance de ter lucro, caso sobreviva ao prazo de “carência” da pirâmide. O espertalhão vai tomar um enorme tombo (merecido, não acha?). Pois, no dia que a pirâmide desmoronar, e esse dia chegará, ele estará com seus 50 mil ou 100 mil em um extrato “virtual” de um dinheiro inexistente.
Claro que não estou indicando ninguém a participar desses esquemas, isso não é investimento, isso é caso de polícia. O objetivo deste post, como todos os outros de nosso blog, é meramente informativo e para abrir discussões (use os comentários à vontade).
O que estou dizendo é que é possível (não é provável), mas é possível ganhar algum dinheiro fácil em porcarias e é disso que elas se alimentam. Pois só depois de você ouvir falar de fulano que está com o balaio cheio é que você se sentirá tentado a ingressar.
Enfim, esperamos ter cumprido nosso papel informativo. O lema do nosso blog é formar investidores conscientes. E investidor consciente tem que saber de tudo que se passa. Abraço e bons investimentos!
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